terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A estrada, sedentária estrada, que me levava da rua para casa todas as noites, naquele dia mudou de lugar.
Esqueci o próximo passo e parei, esperei, respirei e por fim esqueci o tempo, ele não se importava.
Me acalmei.
Aquele olhar ainda queimava e as palavras não me protegiam mais, mas tive paciência, nada me machucaria. "Já virei muitas ruas, já virei muitos copos, já virei a cabeça e sempre cheguei onde queria, embora cada vez menos salvo".
Algo me dizia que a próxima surpresa seria boa.
Decidi agir, mais um passo e.............uma caveira! A primeira coisa que me viu! E que eu vi! E essa eu conhecia!
Posso explicar: Numa noite há algum tempo, fui presenteado por esta caveirinha que plantou em minha cabeça, dentre muitas dúvidas, aquela que mudou a minha vida. 
Até hoje não sei o que ela viu quando olhou as profundas órbitas e o que se revelou em sua apimentada escuridão a ponto de destilar tanta vontade e condenar o meu coração. Acho que foram as cores, ou a experiência, talvez o peso de uma vida trazido em festa pelos amigos e distribuído em palavras de sorte, da noite para o dia. Na verdade não sei o que foi, só sei que ela viu algo e preferiu nada revelar, naquele instante, para garantir o reencontro ou um par vazio para acompanhar sua empoeirada existência.
No fim de tudo - eu decidi - só vou pedir uma linda caveirinha, como aquela que conheci, para dividir comigo o tempo gasto no funesto retorno ao centro de tudo. E, talvez o centro de tudo seja em alguma esquina e nós possamos presentear uma jovem alma com um belo passeio pela vida, um passeio demorado e intenso (como deve sempre ser).
Seria muita sorte, e outro grande presente.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quando todos vão dormir,
quando eu vou dormir,
minha mente desperta
e procura alguma coisa pra fazer.
Aquela mania, a suave brisa do ventilador
que equilibra cada ponta do chapéu em perfeita simetria:
quatro perfeitos cozinheiros orbitando ao redor da luz.
O pequeno globo empoeirado gira
me levando, às vezes, pra onde eu quero estar.
Mas não nos últimos dias.
É o que vem na minha cabeça e na tua,
é só uma clássica em preto e branco,
é o fluído denso que me impede de correr mas
que me deixa chorar
porque eu paguei pra isso.
Caí pro lado pra ficar ali
observando de perto e cuidando
pra errar agora, na tua pele
e aprender assim, sem dor,
sem guarda, só com o impulso,
o som que sai primitivamente da pedra.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Na garganta, no peito, no estômago,
o nó, o aperto, o frio,
descendo linha por linha.
Mudou rápido demais.
Agora,
no meio do dia,
eu só tremo,
igual um idiota,
sem ninguém pra me acalmar.
É só medo,
estático e agudo,
e raiva por não conseguir parar.
Cadê o fino egoísmo,
a autossuficiência,
e a outra história do mundo?
Não sei.
Acho que fugiu,
acho que encontrou alguém,
enquanto sobrava algum tempo pra jogar fora.
Só ficou a casa, as cartas na mesa
e nenhuma resposta.
Ela vem,
mas algo me diz que não vai ser agora.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Ganha, avalia e trabalha.
Há tempos que o mundo é assim.
É pura distração plástica,
não tão pura quanto deveria.
É a mesma que serve a mesa
e cai não sei de onde
todo dia.
É tudo igual.
A mesma sede de não dormir
e a raiva de olhar pro céu
e não achar um espaço pra dividir contigo.
Deve ter gente demais aqui,
lá embaixo,
e dizem que lá em cima,
mas esses eu não conheço,
só ouço o barulho dos passos
tarde da noite,
o salto batendo no chão,
e às vezes o cheiro do cigarro
que chega no meu quarto pela janela sempre aberta.

Merda de quadro cinza que sempre me assusta!
Merda de pintor maluco!
Ele deve morar lá em cima,
só que dele eu não ouço nada.
Ainda bem que eu não ouço nada.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Esse teu tédio eterno me inspira,
atrasado,
junto com o mundo,
até a última gota,
e toda essa energia
que sai da tua boca e
desce pela tua roupa
até o chão,
junto com ela,
me contagia.

Quanta imaginação.

Acho que penso demais enquanto caminho..
qualquer dia desses eu fico pelo chão.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Casa cheia,
a rua inteira pela frente,
e aquilo tudo que foi dito
batendo na minha cara
com o vento.
Não sei se cheguei
a tempo de ver a luz apagar,
mas alguém contou como foi,
como fui, pelo caminho certo ou não,
parado a tempo de voltar.

Ainda é estranho lembrar
do Nada apresentado
e daquele som que ainda
dói em todo mundo,
cada vez mais fundo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Fica com o poço que te dei,
não preciso das moedas,
já que todos os pedidos e as promessas
vieram do modo que pensei.

Lembra da flor que te mostrei
naquele caminho de pedra
e os quadros na janela
que por muitas vezes olhei?

Me dá a tua mão,
eu preciso agora dela
junto à minha,
sem receio.

E se alguma tarde parecer chata,
me avisa,
todas as minhas eram assim..
até que você veio.

Teu.

Vem medo,
tristeza,
solidão.

Falta afago,
calmaria,
certeza.

Há um mar
que duvida,
desfaz.

Queria na verdade,
nada mais,
do que saber
se serias capaz.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Mais uma vez ele me encarou.
Me olhou com tanta dignidade
que me constrangeu.
Quem ele pensa que é?


Ele vive nas ruas,
ele come do lixo,
coberto de feridas, 
algumas esquecidas,
atende por mil nomes,
vejo-o quase todos os dias, 
andando pelas ruas.


Quem ele pensa que é?
Mais uma vez me encarou.
- definitivamente, detesto animais.
É tão fácil sentar
as suas ideias no chão e rezar
-sobre os seus pés-
eu posso ver, existe um peso.


Foi o mesmo que eu larguei
quando pensei em levantar
o mundo pra você.


Só não precisa me acordar
hoje na hora certa.
Pinte os seus olhos de outra cor
e esqueça a porta aberta.
Eu só queria dizer tudo que
tenho só pensado,
amortecido.


Faz o que for preciso e
lembra do que te disse
antes de acordar:
Você pode segurar o céu e todos os seus anjos mentirosos e perigosos,
inclusive pode me levar pro mesmo lugar, sempre que quiser.
Agora, não peça pra não ligar. O meu nome te lembra a dor, e a dor sempre importa.
Tudo o que eu queria
era acordar no fim da linha,
sem mais paradas,
sem mais cobranças,
sem mais da vida.

Hoje tudo que eu queria
era te esperar
no fim da fila,
sem qualquer pressa
ou qualquer sorte
que nos impeça.

Sempre amanhã.
Eles dizem: amanhã
é um novo dia.

Eu sei,
sei que isso é verdade..
mas nessa cidade tudo é fantasia.
Só tenho os ecos,
secos,
costurando o tempo,
há tempo.

Poria mais água na pele,
só por garantia:
leve, lave e guarde.

Entenderia o desvio e
a distância estendida,
mas o mal e a surpresa
sempre acordam,
e o trato sempre é mentira.

Tenho apenas como não saber,
e o gosto amargo que veio espiar
às vezes me assusta.
Como não assustaria?

É fraco, errado,
injusto e não é meu.
Não confiaria.
Tem o nome de outro.
Por que a alegria?

Ninguem passa, avisa e
volta à vista.
Não sei onde está,
já disse o que penso
e continuo sem pista.

Só sei que queria
lembrar onde deixei,
depois de tanto esperar,
a tua companhia.
Amanhã chove e o tempo corre,
deixei a janela aberta
pra poder ouvir quando o céu cair
e cantar as suas pedras.
Um passo em falso no asfalto descalço,
as batidas e a circulação.
Se atravessar a vida olhe pros dois lados
e tome cuidado com as sombras no chão.
Hoje cheguei mais cedo,
bebi o melhor medo,
comi a verdade crua,
e uma folha de vidro colhida na areia
rasgava a minha pele e a tua.
O seu grito amassado,
jogado pro alto,
uma troca de anéis dourados,
fotos e elogios,
um coração vazio em um corpo envenenado.
Ontem vi, no canto do quarto
escondido sozinho
sob o perfume da tua roupa,
o meu sonho em te ter.