quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A folha do livro sagrado
queimou como o Inferno.
Subiu à minha cabeça
até a mais gloriosa
e divina das alturas
e pulou.
Ninguém esboçou qualquer reação.
Era só mais uma página virada
em mil pedaços.
Apagaram as notas nas entrelinhas,
fizeram um monumento em sua homenagem,
nomearam um novo Profeta
e aqui estamos nós.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Morto, vivo, rumor perigoso andando impreciso.
Lembro o nome mas esqueci o rosto,
a sensação do esforço,
a vergonha só minha,
a saudade da volta,
a parte que deixei lá sozinha.

É fácil se eu minto.
Metade do que eu sinto
é sorriso de cesto
que encontro em qualquer esquina
e pago barato, vez que não tem preço
e é de liquidez garantida.

Tem algum lugar aí?
Sinto falta de casa,
e onde quer que ela esteja,
também sente a minha falta.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gosto forte.
Café forte, bebida forte,
comida forte, cigarro forte,
forte.
Por que esse corpo fraco?
A vontade do forte e um corpo frágil.
A degustação é cara, rara, quase que exclusiva,
e eu não tenho boa memória.
Gosto forte,
sem falar no paladar ansioso
que só pensa em misturar,
e nas doses mais do que generosas
que eu insisto em guardar
em mim.
Cada exagero é controlado e descontado
nos outros, e cada sorriso paciente não conta,
não existe, não ajuda.
Gosto estranho,
gosto do fim chegando, do controle mal calculado,
do calor da insônia, e da raiva de mim mesmo.
Gosto da noite, sem exagero.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O gatilho da decepção é a expectativa..
Quando a morte chega ela não bate,
ela não avisa, ela vem por trás, com o punhal nas mãos,
ela beija a tua nuca, ela acaricia a tua orelha,
ela traz o frio de volta. Surpresa com a única certeza.
Mas quem disse que ela não chora?
Aposto que ela chora. Ela se alimenta disso.

O gatilho da cegueira é a saudade..eles sempre dizem.
Ela fica pra sempre, mesmo que escondida.
Mas quem disse que ela não sorri?
Aposto que ela sorri. A saudade chora e sorri, é irmã da outra,
mais nova, sensível e rasa. Ela sabe o que faz.

Não adianta buscar resposta
e não vale a pena esperar sentado.
Por mais que todos saibam, não custa nada lembrar:
Quando a hora chega, você sabe qual irmã deve abraçar.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Meu corpo sujo,
diferente dos que servem,
diferente dos que vendem,
pra mim serve.
Minha barba cresce,
meu cabelo cresce,
a grama cresce,
e eu corto.
Até nisso padece.
Uma grande mentira, uma piada sem graça
que me leva de um lado a outro pra me dizer nada.
Ficam os cabelos e os ossos caprichosamente desalinhados:
O cabelo mal cortado embaixo da grama mal cortada,
e a vida mal vivida
pelos outros mal contada.