terça-feira, 28 de agosto de 2012

uma pequena civilização
esquece de colocar lixeiras nas ruas
e perde o território por um golpe do destino

a história do mundo começa pela
história da minha rua
tipo uma rua descuidada
é assim que é
e é assim que se financia uma
revolta reprimida mas isso ninguém conta
porque quem conhece a história hoje
não fala nem corre mais
e só sai a noite e
esquece que o mundo
começou por outra cidade
tipo uma colônia perdida
inalcançável através das vassouras
e da patrulha sanitária
fumaça em água eu
só vi isso a noite toda no
estacionamento do meu prédio
olhando pros lados
e brincando de ser um cara sujo
e de ser condômino
de ser um vizinho malvisto pelos outros
mas só eu brinquei
porque quando subi
tudo continuava igual,
a tv continuava no mesmo canal,
a geladeira ainda não ligava a lâmpada
quando a porta abria,
a minha cama continuava precisando
de um colchão novo
e de alguém feliz pra dormir em cima dela
o gás tá caro pra cozinhar
como a embalagem ensina
a luz e a água também
por isso não fica bom nunca
mas eu sempre como sozinho mesmo
e quando alguém aparece
eu não abro a porta
e quando abro eu peço algo
por telefone
aí aproveito
e já mato a fome
e resolvo o resto
depois de tomar aquele suco feito
com bem mais que um litro de água
que também não fica bom nunca
fraco e amargo
como eu

domingo, 19 de agosto de 2012

foi ainda deitado que
vi refletida no vidro da janela
a minha cama desfeita
apenas a minha cama
desfeita

alguma força me pôs em pé e
me empurrou pelo
corredor que
continuava deserto

deserto no espelho do banheiro

desci correndo e abri a porta
ergui os dois
braços e segurei
o mais alto que pude
aquela última vontade de continuar

era o meu presente pro mundo

mas as pessoas na calçada
só viram uma porta aberta

uma porta aberta
em uma casa vazia

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Aqui ninguém é bom
aqui ninguém é mau
ninguém é santo ou deus
nem o diabo nem ninguém aqui
nenhum de nós conhece nada
aqui todo mundo é de
vapor e veste carapaça de pedra
aqui todo mundo pode ser gênio
mas lâmpada nenhuma prende
ninguém aqui porque
a gente vive no escuro
e tem muito mais espaço lá.