quarta-feira, 11 de setembro de 2013

rejeitado pela fumaça
o incenso apaga

se escrever
me salva que
me salve agora
no meu quarto
com a madrugada
subindo pela
janela e me
expulsando
daqui

vizinho empresta
o olho pra ela
vigiar



deus falou comigo
do fundo de uma
tomada queimada

não quero nenhuma
certeza na
na vida mas sei que
cheirei o cheiro de
queimado da manta
de deus agarrando
aquele fio

com a mente rendida segurando
com medo e com a mão
até

sentar todas as minhas merdas
naquela cadeira elétrica de duzentos
e vinte volts e dois pinos

foi como fazer contato
sabe?

e senti que ele existiu uns dois segundos
na minha frente

tocando a ponta da flecha
e sussurrando pelo
rádio desligado

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

a chuva se joga dos fios
não das nuvens

talvez: uma gaivota
uma pedra
uma pena
um helicóptero
sim

raios
e uma garrafa de vinho
estrangulada
sem a última gota

"o" dia para perceber que
a capital ainda me ama
e eu amei
a solidão que ela me deu
o segredo devolvido
pelo alprendre
na fumaça que invadia
o quarto desviando
do meu abano

que saía da minha cabeça

segunda-feira, 13 de maio de 2013

acorda na
casca podre
do mundo

puxa a descarga
e deixa ir com o eco no fundo

a alma amarga desovada
pra avisar que ainda existe

segunda-feira, 22 de abril de 2013

falando

em: conversas baixas para
encostar a cabeça em qualquer lugar

em: duas almas que se encaram

-com fé de que
corpo existe
e de que nascer não é o fim-

em: imitar fumaça que
tosse fumaça e morre vazia

em: ouvir o chamado de dentro

-acho que pelo olho que hospeda
o mundo entre uma
piscada e outra-

pronuncio enfim a fome
e reviro o chão em
busca de calor sem
conseguir me abrir

-não consigo
com o arame atravessado
na ponta do nariz-

não consigo
aqui

terça-feira, 9 de abril de 2013

é o risco sem
custos e benefícios
sem prós e contras

árvores e calçadas
pássaros e fios

é abraçar
um cinzeiro
cardíaco

domingo, 17 de março de 2013

enigmatizado
num sopro
de presente

agora
não tem horas que tudo parece
um labirinto num espelho
e dedos perdidos
numa pirâmide?

assim
mesmo

vejo um homem
correndo nela e
apontando pra
algo no
escuro

e percebo que
sou eu e o
caminho
sem saída

quarta-feira, 6 de março de 2013

manto negro dobra reza e
por um milagre que vela
nenhuma vende

vem dormir em mim

toma
um corpo aberto pelo sol
que se ergue quase forte:

uma luz vermelha
que lamenta o esforço
de pesar sobre os pés

pra ver

que o tempo leva
todos e o mundo

mas
leva só isso

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

o despertador toca no lado
esquerdo lado da
cidade e do
coração dela

toca pra uma fila de bocas
magras num grito pontual
que não alimenta

a órbita rasa acorda
a piscada clareia
no cessar do
som e

ilumina como surpresa

surpresa de
trincar cara seca

seca de tanto chorar
em sonho

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


posso jurar com um beijo
de sombra deitada
na calçada

com uma mão de gelo pra
colocar na testa

posso até morrer como uma
gota de café numa
folha preta

eu posso segurar todo
o fósforo do mundo
num único
palito

é só queimar todo o resto
com sol
com febre
com um ponto
escondido e

final

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

eu fico com a raiva que vem
na minha
cabeça

com o meu porco
fisgado num anzol
de lata e de mentira

que sobe e sobe
naquela linha
bem devagar até arrebentar
com tudo

e comigo

eu fico uma tarde jogado
no semáforo
vestido de palhaço
pedindo só um minuto

e eu fico muito bem na foto
aérea da cidade

escondido como
a última semente do
silo gigante
chamado São Geraldo

abafado demais pra virar
vida

protegido demais pra matar muita
fome

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

de uma ponta à outra o corpo cansa
a beira ferve e embaçaria mas

ozome quebra e por ora
a onda verde salva fria

lei
horizonte
e cara séria
embaixo do capuz não
muito longe

do hálito forte
da rua e da miséria

esconde
no mar de quem vigia se
precisar
o cheiro livre que vai
no bolso
enrolado pra nunca mais
voltar
quando um braço dá conta
de dobrar o resto todo

uma montanha agoniza e
me sustenta

um camelo e
uma bandeira

e ainda ajuda com sede
pra avistar uma
miragem exatamente
igual ao topo lá em cima

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

eu quero morrer de uma forma rápida eu
quero morrer com uma lembrança
boa na cabeça eu quero morrer agora se
ninguém for sofrer com isso

eu quero morrer e não ser encontrado  
eu quero que o meu coração
exploda antes de tocar o chão
eu quero que escondam os meus
dentes eu quero
afundar até o centro de tudo

eu quero que me queimem depois
e quero aceitar antes de acontecer
eu quero poder lembrar disso

eu quero que enterrem todas as merdas que
eu fiz e escrevam algo bom sobre elas
elas merecem mais do que eu
merecem uma pedra enorme
em cima delas e uma flor
em cima da pedra

eu quero morrer sorrindo
eu quero morrer com saudade
quero morrer com saúde
e quero morrer sem culpa
quero morrer segurando uma mão
com força

eu quero parar de sofrer
eu quero o meu egoísmo compreendido
eu quero alguém pra
puxar o gatilho

eu só
quero morrer
reciclado de ouvir um grito
quebrando o meio-fio

firme como uma pisada
disfarçada

numa concepção octogenária
e pedagógica do atropelamento

eram: o sangue idoso e o nosso
quase misturados
tudo amarrado pela Moira
no banco do carona
tudo quase embaixo da
tonelada de ferro velho

velho com a mesma idade
que a morte tem

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

pensar é observar alguns metros de
areia quente e água fria e cozinhar
no chão como uma água-viva

morta.
tem a hora em que eu vou pra baixo
e tu me mostra como se sustenta
um corpo inteiro sem preparo

e devagar

mais uma vez
o que importa é sentir aquilo tudo
de novo sem entender
na verdade
o que é ou de onde
vem

usar as mãos pra segurar
o que não
se pode perder

e entender que sustentar
é exatamente a mesma coisa