quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

eu quero morrer de uma forma rápida eu
quero morrer com uma lembrança
boa na cabeça eu quero morrer agora se
ninguém for sofrer com isso

eu quero morrer e não ser encontrado  
eu quero que o meu coração
exploda antes de tocar o chão
eu quero que escondam os meus
dentes eu quero
afundar até o centro de tudo

eu quero que me queimem depois
e quero aceitar antes de acontecer
eu quero poder lembrar disso

eu quero que enterrem todas as merdas que
eu fiz e escrevam algo bom sobre elas
elas merecem mais do que eu
merecem uma pedra enorme
em cima delas e uma flor
em cima da pedra

eu quero morrer sorrindo
eu quero morrer com saudade
quero morrer com saúde
e quero morrer sem culpa
quero morrer segurando uma mão
com força

eu quero parar de sofrer
eu quero o meu egoísmo compreendido
eu quero alguém pra
puxar o gatilho

eu só
quero morrer
reciclado de ouvir um grito
quebrando o meio-fio

firme como uma pisada
disfarçada

numa concepção octogenária
e pedagógica do atropelamento

eram: o sangue idoso e o nosso
quase misturados
tudo amarrado pela Moira
no banco do carona
tudo quase embaixo da
tonelada de ferro velho

velho com a mesma idade
que a morte tem

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

pensar é observar alguns metros de
areia quente e água fria e cozinhar
no chão como uma água-viva

morta.
tem a hora em que eu vou pra baixo
e tu me mostra como se sustenta
um corpo inteiro sem preparo

e devagar

mais uma vez
o que importa é sentir aquilo tudo
de novo sem entender
na verdade
o que é ou de onde
vem

usar as mãos pra segurar
o que não
se pode perder

e entender que sustentar
é exatamente a mesma coisa